20070505

adormecer morrendo

não quero cair de costas na rua reza
e pensar fora de tudo
porque dói tanto
saber que até o conjunto de todas as caras
me faz lembrar a tua cara
e saber que o conjunto de todas as caras
não é a tua cara.

abre-se um rasgo
e a carne,
vermelha e viva,
adormece o mundo inteiro

que não sei nada
porque me apetece chorar
e morrer
e vomitar e morrer
e vomitar o meu morrer

porque tu
me rebentas toda a vontade de viver
e não tens essa responsabilidade
é da minha culpa.

e eu quero chorar,
como nunca,
como sempre quis,
como nunca pude,
como nunca fiz por poder
nem por querer.

ardes em tanta vida aqui por dentro,
que já nem há mais espaço
nem há mais nada.
a luz varia entre o não existir
e entre o fugir,
correndo,
de existir aos meus olhos

e assim não consigo ver
o quão bonita te faz a luz
e a escuridão
e o quão bonita és
quando o silencio se alia
ao misto de luz e escuridão
em que acredito.


assim,
só quero descer as minhas mãos pelo teu rosto
e cheirar de novo o teu cabelo
descer o frio dos meus olhos nas tuas mãos
deixar cair o meu corpo,
silenciosamente,
no enforcamento do meu peito que explode
e adormecer morrendo

aqui,
à tua frente,
como se as minhas ultimas palavras fossem o teu rosto
e o jazigo onde me sepultaram
as tuas mãos
ainda quentes como a terra
e suaves como este vazio
que vai dançando à minha volta.

3 comentários:

Anónimo disse...

gostei muito de o ler. e o anterior também.










*

Anónimo disse...

"porque dói tanto
saber que até o conjunto de todas as caras
me faz lembrar a tua cara
e saber que o conjunto de todas as caras
não é a tua cara."


é...

Patrícia Lino disse...

és o maior

(nos dois sentidos)

e eu adoro-te, Tiago :D