20080503

pensamos que era preciso
então voamos nos nossos sofás
e as nuvens do candeeiro da sala
tiravam-nos da memoria toda aquela confusão
os nossos olhos viam ratos explodir
esmagávamo-nos um contra o outro

[como seria bom
se nos sentíssemos de outra maneira[

saímos á rua
e compraste uma flor, muitas flores
saímos á rua
e compramos uma arma

tentamos morrer
porque as nossas mãos
tinham-se tornado grandes de mais
para segurar o mundo

e falhamos.

não havia ninguem na cidade
e pensamos inventar para nós
uma forma só nossa de falar,
de andar e de nos movermos em redor do ar

descobrimos que os carros não andavam
e as cores eram mentira
os cães que ladravam
sabiam a musica
e então comemo-los

descobrimos que os aviões
não voavam
e que o céu estava escondido
atrás das árvores dos oceanos
das pedras gigantes do passado
dos momentos e dos sons e da luz
e então destapamos o sol
cobrimo-lo com as flores que havíamos comprado
e então destapamos o céu
e matamo-lo.

depois tentamos morrer
e falhamos
outra vez
porque fomos incapazes
de destruir a unica coisa
que ainda era real:
o som de uma bala e de um cranio a explodir:
o nosso amor.