20071227

oiço quem me diz querer o melhor
oiço quem comigo trava a mesma luta
oiço o que me bate e o que me ouve
oiço o que me move e o que me morre
oiço plavaras, luzes e cores
oiço o barulho do prazer, do silêncio , das estrelas e do pó
oiço me só a mim e ,só, oiço toda a gente
oiço nada ...
e
oiço te a ti mas só eu sei o tanto que isso me diz.

20071206

a noite já é mais
que a própria solidão da morte
e eu já não preciso de ti
basta-me a rápida procura
do beijo mais próximo da minha boca
e este insólito cheiro a álcool
que me alimenta

porque estes tempos
são tempos diferentes
dos mais rápidos tempos de outrora
e tento morrer na memória
para que estes dias que não passam
no presente
se deixem diluir no passado
e desapareçam.


perco-me no desaire
das horas
e o sol nasce quase sempre
no mesmo sitio
à mesma hora
o mesmo dele
ele mesmo

inclino a testa
para o primeiro raio de luz
do dia,
o cheiro a pólvora inunda-me o olfacto
deito-me em posição fetal
adormeço no escarlate
e a ternura é tal
que consigo conceber
que nada de ti se passou
não exististe nunca
nunca estiveste cá
nem o meu corpo esteve vivo no teu.

uma suave brisa,
sou imensamente feliz
assim
nas profundezas do meu maior receio
nas ondas turvas do mar
na tortura masoquista da saudade
no harmónico
eterno calor da noite infinita de inverno.

e no inverno pouso
o resto da alma
onde quer ela exista em mim,

há-de saber melhor lugar
para construir um vendaval de palavras
de corpos imundos
abalados
abduzidos da voz
descidos da varanda mais funda
que a morte conheça

onde quer que ainda existas em mim
não morro

assim
por não ser tanta a fome,
por não ser tanta a sede,
por não ser tanta a dor
e nada disto, provavelmente,
aconteceu
em qualquer outro espaço de tempo ( em qualquer eu )