20100206

poema da saga infinita do aneurisma falhado

ás vezes acontece
sentar-me à varanda e parecer
que as montanhas do outro lado
me atacam
com facas
de fumo espesso
e todos os sinais
contados por mim
são vermelhos e
proibitivos
de tal forma que
até o sofrimento queda de me
abafar
e a dor
para de me amanhar
e a luz
cessa de me cegar
de tal forma que
enquanto lês isto parada
todo o meu mundo cessa
de ser lugar

e este movimento
de mil mulheres em
movimento
de mil beijos em
andamento
padece de uma condição imortal
e transforma todo o sentimento
em braços e pernas e torsos
e inunda toda a doença de sangue limpo
e a esperança aparece vestida de vermelho
pronta a dilacerar

canta rouxinol canta
ao longe o teu barulho soa-me
sempre diferente
e as abelhas são sempre de um mel azul
onde passam os meus olhos
não há sinais que me parem
a imaginação


e bêbado continuo
ainda capaz
de entornar dois ou três pingos de sangue
na lua
com precisão e clareza
como uma pétala de flor
a arder
no deserto.