20130219

fragmento de uma coisa

A certa altura tive a certeza que bebia água e não uísque e que a taquicardia de lobo esfomeado era ela. Levantei-me segurando o corpo às mãos frágeis da alma trépida e transparente da embriaguez do tesão. Ergui-me triunfal na passadeira de cristal vivo, cálido, que ela tinha tecido numa precisão de aranha em meu redor, agarrei-lhe as ancas com suavidade. Lembro-me de lhe ter dito uma parvoíce qualquer que salientava o óbvio, Estás demasiado próxima de mim para não notar que te quero, algo deste género, na expectativa de não a ofender, ao que ela respondeu devolvendo-me o abraço e encostando a cabeça ao meu peito, Sim.
Fui traçando a minha carpete atávica de símio atrapalhado ao longo da erva até a um canto em que a passadeira dela já não se distinguia do emaranhado de vida e tesão que lhe enfiava nas calças, em forma de mãos, de beijos de fome na boca aberta de escrava, de respiração doente. Sentia as mãos dela, seguras e delicadas como um bisturi, rasgarem-me o aperto das calças, os olhos dela, encostados aos meus na cegueira lúcida de um vidente, a sorrir vermelhos de fúria e álcool, Teresa, e a cara dela a imaginar-me no chão rendido, de tornozelos fincados na lama, com o pó das minhas ancas entalado no chão frio, enquanto o corpo dela me martelava o ego para o interior do inferno, de mamas estendidas

E custava-me imaginar-te com elas

            na latitude perfeita, com os olhos vidrados de um astrólogo no céu negro do presente, gemendo fininhos sopros de gata, olhando-me quase incrédulo de prazer no fim do teu corpo. Pensava em ti, também, no medo verdadeiro que tinha de te perder.
            Nunca tive tanto medo de perder uma mulher e sei que te perdia a cada palavra. Ter-te-ia dado o mundo.