A certa altura tive a certeza que bebia água e não uísque e
que a taquicardia de lobo esfomeado era ela. Levantei-me segurando o
corpo às mãos frágeis da alma trépida e transparente da embriaguez do
tesão. Ergui-me triunfal na passadeira de cristal vivo, cálido, que ela
tinha tecido numa precisão de aranha em meu redor, agarrei-lhe as ancas
com suavidade. Lembro-me de lhe ter dito uma parvoíce qualquer que
salientava o óbvio, Estás demasiado próxima de mim para não notar que te
quero, algo deste género, na expectativa de não a ofender, ao que ela
respondeu devolvendo-me o abraço e encostando a cabeça ao meu peito,
Sim.
Fui traçando a minha carpete atávica
de símio atrapalhado ao longo da erva até a um canto em que a passadeira
dela já não se distinguia do emaranhado de vida e tesão que lhe enfiava
nas calças, em forma de mãos, de beijos de fome na boca aberta de
escrava, de respiração doente. Sentia as mãos dela, seguras e delicadas
como um bisturi, rasgarem-me o aperto das calças, os olhos dela,
encostados aos meus na cegueira lúcida de um vidente, a sorrir vermelhos
de fúria e álcool, Teresa, e a cara dela a imaginar-me no chão rendido,
de tornozelos fincados na lama, com o pó das minhas ancas entalado no
chão frio, enquanto o corpo dela me martelava o ego para o interior do
inferno, de mamas estendidas
E custava-me imaginar-te com elas
na latitude perfeita, com os olhos vidrados de um astrólogo no céu
negro do presente, gemendo fininhos sopros de gata, olhando-me quase
incrédulo de prazer no fim do teu corpo. Pensava em ti, também, no medo
verdadeiro que tinha de te perder.
Nunca tive tanto medo de perder uma mulher e sei que te perdia a cada palavra. Ter-te-ia dado o mundo.
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