20110712

conto-te um segredo, conta-me os cabelos

estava deitado na cama a fazer contas aos cabelos que vou perdendo como que a envelhecer nas minhas mãos. estava
deitado vivendo dentro de um passado tão mais velho que eu e mesmo assim com tão boa aparência. e eu invejo o
mundo exterior a mim: tudo tão mais calmo que esta pasmaceira interior que me come por inteiro. invejo-o pela razão
de não ser meu e de não me importar para além da inveja que tenho por ele.

20110709

No outro dia acordei sozinho

Há vezes em que me sinto tão sozinho como Deus quando cá chegou. Há dias em que me sinto um produto da sua esquizofrenia.

20110703

cheguei tarde a casa

Não. Não é preciso falar. Somos pessoas totalmente diferentes, entendo isso, igualamo-nos talvez no ódio que temos por mim.
E mesmo assim, julgo-me diferente de ti, em última análise, conheço-me tão bem que acho necessário ter sempre um pé atrás
em relação ao que eu digo e faço. É fundamentado com bases bem sólidas. Percebo que não entendas isso, nunca foi o teu forte
abrir cartas e ler do fim para o principio. Nunca quiseste ler o fim. Mesmo que este fosse megalomaniacamente profetizado
a cada virgula. Mas eu percebo, a tua ânsia de viver o máximo de tudo impediu-te de aproveitar qualquer ponto final
que te tenha dado, até que nos cansamos um do outro e eu de mim e tu de mim. Ouve, eu entendo que seja difícil. Entendo
que queiras fingir um pouco mais que gostas de mim, que gostas da forma delirante que uso para entender a minha vida
e achar que o sentido é uma propriedade em meu nome, com escritura e que paga IMI e essas tretas todas. No fundo,
só queres prolongar a minha felicidade, mesmo que isso custe a minha felicidade. És uma boa pessoa. Eu é que não.
Tu sabes disso. Eu é que não.