20061125

Tréguas com o Inverno ,
Desejava apanhar o calor da Primavera
Enquanto passeava no paraíso.

Caminhar sozinho,
Para me aquecer,
e esquecer,
e derreter
e ter.

Quando não vi o que eu chorei
quando olhei o espelho,
Dei conta que não chorei por mim,
Mas que chorei pelo frio.

E o frio...
É do Inverno,
não é meu.
Só está cá para me lembrar
que ainda sinto.

Porque no fundo...
No fundo eu ainda não morri,
E o paraíso,
esse,
Tem que esperar mais uns Invernos.

Vou aquecendo as mãos
Enquanto falo para elas
E enquanto com elas agarro o peito
E lhe desfaço os nós
que me negam a circulação.

E o resto do corpo
Aqueço com a vontade que tenho
De chegar ao jantar,
e ver à mesa servido,
um bom prato de carne e vida.


.yan

20061123

Escolheu morrer no meu ombro...

Eu não te acho bonita,
Nem te ponho na minha memória,
Eu nem sei quem tu és.
Mas se existires diz-me quem sou, borboleta.




Ela voou para junto de mim, poisou-me no braço e morreu.
(Eu não tenho culpa, eu vejo ameaças onde elas não existem.)
Eu podia ter morrido se aquilo me entrasse na corrente sanguínea, ou tinha ficado sem um olho.
Não almejo a sorte do Camões.
Tinha que acabar ali com o meu próprio sentimento de medo e medo de sentir dor.
Voar faz bem à pele! Eu quero preservar a minha, tivesse ela voado longe de mim, eu não faço mal a ninguém,
quanto a ela não sei. Tinha asas, sabe-se lá que mal podia ter causado à humanidade.
Porta-aviões é coisa que não sou!
Eu não me estou a justificar, que fique bem claro.
Um rato come a própria morte, ou enfia-se nela. Pensam vocês que o rato é estúpido,
estúpida foi ela, ou são vocês, que nem na morte sabem cair. Já algum de vocês comeu a morte?
Claro que não! Não têm inteligência para isso e ficam à espera que a morte vos dê uma palmada, esmagando-vos contra os ombros de
alguém mais forte, alguém mais mundo.

Aquela foi estúpida, como vocês e eu, e escolheu morrer no meu ombro.
Eu não gosto dela!
Porque...
As borboletas casam-se com flores!
E nem borboletas são, mas lesmas travestti, transformistas.



.yan

20061119

Morfina

Inglório o meu tempo amanhã.
Vou levar um copo de água à fonte,
Vou saciar a sede de vida
que toma conta das suas águas.

Vou dizer olá aos peixes
E dizer adeus as nuvens
que me acompanham no caminho
e que me ameaçam de chuva.

Irei alimentar árvores pelo caminho
Vou lhes dizer o meu nome
Para que não se esqueçam na Primavera,
quando já tiverem folhas,
que lhes dei de beber a água.

Não sou capaz de entender
E tudo isto me é dado
como um sacrificio.
Porque eu vou dar de beber água a uma fonte
E o que não faz sentido é pensarem que isto não faz sentido.

Porque faz,
não desse o meu sangue
sempre com o caminho do meu coração.



20061115

Eu vou fugir!
Vou tocar-lhe as pontas dos pés
Vou dar-lhe asas e falar.

Eu vou dar.
se der,
Vou cair.
Se poder
Mato dois ou três.

Vou tocar-te no cabelo,
arrancá-lo com os dentes
Porque eu não quero ser delicado
E o teu cabelo cheira-me a pêssego.

Tenho fome!
Tanta mas tanta fome.

Vou comer,
Devorar o meu quarto com uma só dentada,
Sigo para bingo e,
como sem querer o quisesse,
Dou-me a comer o mundo.

Tenho o céu como chão
E quero a paz do azúl presa na minha mão.

eu vou... vou...
Dizer adeus.


.yan

20061107

São como pegadas...

São como pegadas-
E marcam-me como passos de som,
Que me sorvem e absorvem.
Que a minha boca desnudam
E que o meu corpo contornam.

São como pegadas-
E se tornam húmidos
Pedaços de carne
Entrelaçados e juntos
Como medrosos braços
Que se agarram e se traçam,
Que se julgam culpados em simultâneo,
Que se juntam na mesma culpa para toda a eternidade.

São como pegadas que me marcam-
Os teus lábios.

20061103

Traz-me na madrugada.

Traz as luzes que se acendem

Ao passar das horas,

Onde traço a fumo

Uma dadiva órfã de mãe.

Traz a noite aos alguidares

Numa noite sem divisas,

Onde a acústica da cidade se solta

a cada hallelujah.

Traz o ourives

Que te enfeita a aura,

Agora é algo mais...


Traz-me.


E no canto do rouxinol,

Em plena madrugada,

Oiço quem me traz de sua justiça,

Um pedaço de nada.



.yan