20070208

altivo
passo seguro
entendo bem o que disse

a noite já é mulher
sento-me no chão
procuro-me entre os papéis que vou lendo,
que fui escrevendo.
encontro-me. num estado tão puro.
a luz desaparece,
acho que tudo o que digo perde o interesse quando o falo bem alto com as mãos.
e juro que estou a tentar dizer o que não consigo, aqui.
tenho o estômago a querer sair por serem tantas as coisas que quero escrever,
tanto o que quero partilhar que não consigo começar por lado algum.
ao mesmo tempo, tenho tantas portas abertas na minha mente como fechadas aos meus olhos.
vejo tudo como se a visão me fosse desaparecer a qualquer momento e me deixasse cego e preso a tudo o que não disse.
levanto-me. fico parado no meio do meu quarto.
a caneta continua a pesar por cheia e eu cheio de vontade de a esvaziar.mas não consigo.

procuro, na ultima luz e já na madrugada, o caderno e agora escrevo :

todo o meu corpo é suor e cinza
todo o meu saber é ilusão
todo eu sou um emaranhar de sentidos
e vontades que se afogam
com a vontade de me alastrar
como um cancro ou uma doença benigna
pelo corpo de toda a gente

todo o coração que me foge
me torna mais forte
e fraco
e me perco a cada palavra
que digo enquanto,
vivo,
tento amadurecer
e chegar ao ponto onde nao mais parar

todo o meu sentimento
é jovem e sem vida
e toda a minha vida é pouca
para falar de vida

tudo o que me passa
me passa tão profundamente
que não sei
o que falar
para que não pareça tão fundo assim

toda a minha tristeza é obra do acaso
e por acaso
não me chamo acaso

tudo o que dito
com uma caneta nas mãos
é o sabor
da minha pele
de tudo o que me toca
de tudo o que me marca
de tudo o que quero falar
mas nesta noite
não consigo !
NÃO CONSIGO!

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