20070218

Alguém afirma que é tarde. Pelas luzes e pelos corpos que se arrastam pela rua a par da
cegueira das altas horas.
A lua acesa como luz de presença e os meus bocados, espalhados, indicando a maior parte
do caminho que esqueci. A saudade a falar sobre um final feliz.
Final feliz, a ideia de final nunca é feliz.
Desaperta-me as mãos, desaperta-me o casaco, tira-me a pele , deixa que o final não seja feliz com os pés plantados à porta e com medo de entrar.
Ele foi tão mais feliz fora disto.
Disto tudo que eu não percebo.
Porque foste tu que me ensinaste a não temer o fim nunca falando dele.

Alguém volta a falar. Cheguei a casa e a garrafa com os teus lábios...
O teu cheiro no meu pescoço e o meu quarto...

Crio, nas paredes brancas do meu quarto, a mais bela imagem que posso imaginar:
-Respira. Ela é uma puta. Distante como todas as outras que me tocam. Chora como quem canta (canta bem). Ofuscada
pelo seu próprio brilho, pela sua sombra.. Respirando leve e delicadamente, ansiando pela falta de ar que a tire dali.
Ela é o mal tenebroso, a chuva em céu azul, o amor nos olhos de um cego, ao cair da noite. O som das flores. Um sopro
de água nos meus olhos, rugosa mente espelhado, num muro de quereres. A calçada, a única, que me pisa.
Ela podia ser o pôr-do-sol ou o sol nascente mas prefere pôr-me a mim atrás dele.
Vestida de si. Não lhe sei o cabelo nem os olhos mas a voz. A voz é única. E as mãos, adoro-lhe as mãos.
Amarga. Ela é tão amarga quanto doce e toda a confusão é o miar de um recém-nascido quando a ela comparada.
Vejo-a como um oceano onde posso gastar parte da minha vida a tentar descobrir-lhe o fim e depois deixar de ver.
Ela... Um sarcasmo vivo e , pobre de mim,
Sou menos que uma ironia. Maior que tu e que eu. Uma viagem à volta do mundo num simples toque.
Adolescente, ela é eternamente adolescente, linda como a adolescência. Trava guerras no seu próprio caminho
Para semear a destruição que vou colhendo e comendo.
Ela é o que me faz sentir, se não bem, sentir. A uva que mal me quer, deixando no sabor um vinho embebido em
limão do mais ácido.
(ela foi o que eu quis)
Cansado, livro-me das costas, do pesar frio dos anos, do passar das noites em branco, porque a cor se fez
das insónias que ela me deu, de todas as contas que fiz aos momentos que imaginei, da bondade e nobreza ,
Da sede e da fome que ela me trouxe, das cores e dos rios que pararam. Livro-me das amarguras e deixo-a na parede
do meu quarto, encostada a um magenta com cara de tortura, para que a ternura de eternidade se encarregue de a apagar.
Ela é a beleza que se dá ,sobretudo, naquela cor.
Deixei-a lá. Tem nome, claro. Como qualquer outra criação minha.
Como qualquer outra doença que me tenha violado.
Ia escrever-lhe o nome, claro que lhe ia escrever o nome.
Ia dize-lo também em voz alta. Ia trazer a todos a mesma imagem. Ia fugir.
Mas a tinta acabou. Melhor assim, já que o corpo está cansado e a alma... dessa nunca sei.

4 comentários:

daniela disse...

" e a alma, dessa nunca sei"

Final perfeito para um ambiente perfeito, como o que criaste.

"adoro-lhe as mãos."

perfeito, perfeito... não posso dizer mais nada.

Anónimo disse...

e tao grande :O
depois diz.me q nao ta grande.

o final esta lindo
o resto quando tiver tempo d vontade ate tento perceber (vai ser cm o poema do texto, lio-o umas 5 vezes e fiquei a perceber o mesmo que nao tivesse lido vez nenhum)

beijinho, meu querido

gosto imenso d ti

dscpa aquilo

Ana*

Anónimo disse...

e tao grande :O
depois diz.me q nao ta grande.

o final esta lindo
o resto quando tiver tempo e vontade ate tento perceber (vai ser cm o poema do teste, lio-o umas 5 vezes e fiquei a perceber o mesmo se nao tivesse lido vez nenhuma)

beijinho, meu querido

gosto imenso d ti

dscpa aquilo

Anónimo disse...

fazes me lembrar peixoto. e como eu gosto dele!