20130521

Voltava a casa. Era fim de noite e os meus sentidos eram um baloiço embriagado, espreitava a espaços os meus braços,  sujeitando-me á decadência ditatorial das luzes da estrada, da janela aberta do sr doutor que a  esta hora acaba de ouvir Mozart e de beber uísque velho e se prepara para enfrentar mais uma noite de solidão, numa cama vazia como uma gaiola aberta, esperando que a luz me guie para bem perto de onde quero estar.

Ao mesmo tempo que a noite se torna um enorme poço de luz e trevas, o meu corpo de baloiço bêbedo desfaz-se num fumo com cores que não conhecemos. e tu vês as minhas pernas em cinza entrarem-te pelo nariz como o odor adolescente da cocaína, todo o meu torso, vísceras, braços, envolvem-te num sono que não se esquece e que te aquece como as manhãs de sol do inverno, pelos meus pulmões sobe até ao teu pescoço um beijo de veneno e a chuva  deste desencontro afaga-te os cabelos. Perguntamos se podemos descer mais, mas mais que isto é tocar no céu.

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