não há esperança de chorar
os carros com pessoas dentro
formigas enormes da cidade
obreiras da morte
nunca lhes vejo o escuro
olhar
eu sei que todas têm olhinhos
e caminham sem ver
rapidamente no fogo
para não se molharem
todos os quartos guardam uma mulher
as janelas estão fechadas
é que assim
a partir do nada
imaginamos que elas estão nuas
e não nos queimamos
não há esperança de chorar
assim de olhos fechados
a nossa existência pesa
e nem isso conseguimos ver
nunca é demasiado tarde
para se morrer cedo de mais
e a eternidade assusta
como morrer ao domingo
ou abrir os olhos e ver que falta
uma bolacha no céu
ou um beijo na carne.
1 comentário:
'nunca e demasiado tarde
para se morrer cedo demais'
nada mais verdadeiro!
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