20081208

não há esperança de chorar

os carros com pessoas dentro
formigas enormes da cidade
obreiras da morte
nunca lhes vejo o escuro
olhar

eu sei que todas têm olhinhos
e caminham sem ver
rapidamente no fogo
para não se molharem

todos os quartos guardam uma mulher
as janelas estão fechadas
é que assim
a partir do nada
imaginamos que elas estão nuas
e não nos queimamos

não há esperança de chorar
assim de olhos fechados

a nossa existência pesa
e nem isso conseguimos ver

nunca é demasiado tarde
para se morrer cedo de mais

e a eternidade assusta
como morrer ao domingo
ou abrir os olhos e ver que falta
uma bolacha no céu
ou um beijo na carne.

1 comentário:

Truta disse...

'nunca e demasiado tarde
para se morrer cedo demais'


nada mais verdadeiro!