20081127

nomes

não sei. acho que sentia a pele colada à almofada. a cor da pele: é isso: a cor da pele colada
á almofada. se me levantasse todos os meus anos levantavam-se comigo e só deus sabe o peso e o incomodo
que era eu agora do nada empurrar o mundo para baixo.
assim como assim é sábado e o tecto escapa-se de bonito, foge-se de feio, chove dentro desta casa
como se as nuvens fossem metralhadoras de lágrimas, a minha bolsinha com as fotografias da Ana que
tirámos o ano passado quando ainda éramos felizes e dois toda molhada. mas que raio me deu para as por
ali e não cofre junto das notas antigas e das coisas com valor? gosto especialmente daquela foto em
que estás a arranjar o cabelo ao mesmo tempo que equilibras um travessão na ponta dos lábios e sorris
para a câmara. também gosto de perceber que não entrei nessa fotografia, tirei-ta. não faz
sentido roubar momentos a pessoas, pois não? e mesmo assim roubei-te aquele momento e nem o soube aproveitar.
é estranho como parece chover mais cá dentro que em todo o mundo. não vejo o sol há mais
de uma semana e o mesmo é dizer que me tenho afundado nesta cama e que estou cada vez mais doente
e fraco. pálido. se ainda não morri não ha-de faltar muito e é um caralho não conseguir dormir. a cama
parece que tem 7 lados e é toda pontiaguda raios e o barulho da água a cair na bolsinha de cabedal
fode-me os cornos tac tac por amor de deus desliguem o som da vida antes que eu dê em doido. é que
este tac tac, sempre presente em tudo o que eu vejo e escrevo ainda no outro dia o escrevi tac tac
uso-o para o bater dos relogios e o girar do resto tac tac irritantemente a lembrar-me de ti. e continua a chover
desalmadamente nos lugares que nos afastam, onde as flores ficam pálidas e murcham e outras nascem mas
já nao fazem sentido. se me levantar tomo banho e preparo um pequeno almoço, compro o jornal la em baixo
e vou até ao café com ele pela cabeça entro e digo bom dia.
( que anárquico que este desabafo está a ser )
estamos em agosto, ou em novembro. a minha barba cresceu como se eu já fosse um homem, já
pareço um homem agora, que mais queres tu? o meu cabelo também cresceu. talvez o corte mas depois
vou parecer um menino outra vez. gosto tanto das letrinhas das mercearias antigas que piscam,
alternadamente, Mer earia Opes M rceari Lopes Mercearia Lopes, num código - castiga-me que eu mereço
mas não assim - que nem o próprio merceeiro conhece. há bombas que explodem em todo o mundo, há
carne a subir e a descer, polvilhando a terra com sangue eu existo á espera do meu coração que não
explode de uma vez para me tirar daqui - castiga-me que eu mereço mas não assim. não sei se faço bem
em ficar por cá, estou a perceber agora que aquelas fotos que estão a desaparecer são o melhor que
me pode estar a acontecer. estou sozinho agora por pouco tempo, e as minhas ideias flúem como nunca.
há um pássaro que desce e canta muito rápido acompanhando a metralhadora que desfaz todos os pedaços
da tua cara e eu não o vejo mas sei que existe porque não estás cá e quando nos sentimos muito sozinhos
a ilusão do tamanho cresce e tudo parece maior e menos ocupado. não sei se me fiz entender mas foda-se
a ideia é básica.
quando suspiro nasce um zumbido longo nos meus ouvidos. a cidade que cresce lá fora com
o amanhecer ignora-me. falo sozinho e, ironicamente, ignoro tudo o que digo . a minha cabeça
é cinza. sou arrogante, trato mal as pessoas e construo uma especie de ritual que me faz enjoar
tudo o que faço, o que nunca fiz e o que( tarãaaa previsível ) - castiga-me porque mereço. assim não.
se a chuva parar entretanto paro de pensar, ou que chova tudo de ma vez e que o tecto caia
em cima de mim, assim como assim é sábado e não tenho nada para fazer. morrer nunca é má ideia
ao sábado.
( eu depois volto para escrever alguma coisa, prometo )

o céu parece mesmo o céu mas eu não sei o que ele é e o quão longe fica. talvez se eu abrir os braços
o apanhe, se eu esticar os braços o ultrapasse, se eu abrir os olhos... o faça cair.

vamos personificar o tempo e dizer que a mã
e dele é uma puta, por favor!

3 comentários:

ashtray girl disse...

viciante

Anónimo disse...

Gosto desta necessidade de te reler, procurando-te nos teus textos, achando-me nos teus textos.

meu querido Tiago, que porra de textos escreves tu. Que orgulho cresce em mim sem pedir permissão. orgulho, Tiago. Meu amigo.

Renata M. Moreira de Sá Cruz disse...

O Filho da puta do Tempo !

[ / reflexo neste texto ]