20080424

7 da manhã eternidade

o telefone toca
defronte da luz gelada do fim da noite

alguém me chama
daquela neblina quente de vapor

os sofás deitados
e as fotografias a dormir ainda

o telefone toca e tu não atendes
permaneces imovel
no teu futuro incrivel
gesticulas para te manteres vivo
agarrado ás cinzas de tudo o que
nunca te ardeu

no calor doce da madrugada
repete-se o desejo
de correr a cidade e encontrar
mortas em qualquer beco
todas as palavras

o cigarro evapora-se
a lareira liberta a furia de todo o mundo
e tudo arde, e tudo arde

e tudo arde
o telefone toca neste vazio eterno
nas tuas mãos a morte
gesticulas a morte das tuas mãos
nas tuas mãos o cigarro evapora-se
e lembras-te das fotografias que dormem ainda

lembras-te dos olhos e dos braços
porque amanhã é sempre tarde para o coração
lembras-te dos teus passos
mas imovel
amanhã é muito tarde
para que te lembres que continuas vivo.

fechas os olhos e dormes
fechas os olhos e continuas vivo.

calo-me
pq permaneço nas fotografias
e nos sofás
nos lugares e no fogo infinito da noite
e apaziguo a fome
de olhos fechados
na janela do teu quarto iluminada por ti
não morri nunca
na canção da tua voz
eu não morri nunca

fecho os olhos e dormes
e fecho os olhos e durmo
porque eu
eu não morri nunca.

6 comentários:

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

"Is it painful hearing voices ring so early in the morning?"

betânia liberato disse...

estou apaixonada pela tua escrita

***

Anónimo disse...

eu adoro-te oh silva ^^

telma disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
telma disse...

então calhou mal. :p
mas como gosto bastante de J.L. Peixoto para mim era kinda um elogio.