20070126

A persiana ficou meia aberta.
Deixei a caneta passear . sozinha, pelas linhas.
Deixei que me levasse para onde sempre me quis.
Deixei a vista , cansada e dormente, passear pelo céu vermelho.
Tirei um, dois, mil, quatro coelhos do meu bolso. Dançaram à minha frente
e explodiram em carne, plantando pedaços no meu jardim.
Amei. Amei tanto e amei tanta coisa que me esqueci de tudo o que amei.
Fui peça de roupa minha. Usei-me, emprestei-me, gastei-me ao máximo... Mas nunca,
nunca questionei o meu lugar .

- podemos todos cantar no nosso tom mais afinado,
podemos todos ser o coração no nosso humano mais próximo e ser o bem no nosso mal mais carnal.
podemos tudo se tudo poder com o nosso egoismo . E eu sou tão egoista.
Mas sou egoista porque só me importo com o que é meu e a escolha do que é meu, essa, sou eu quem a faz.

Abri a janela do meu 101º andar.
Respirei o meu próprio sono numa descida alucinante.

Se me perguntarem o que aconteceu depois, respondo alegremente :

Continuei vivo por mais alguns segundos, cantei, senti o toque dos lábios morder-me a alma,
sentei-me , nu , numa pedra e vivi por mais alguns segundos, mais alguns segundos e mais alguns segundos...
Fiz de conta que fui uma alergia e respirei-me.
Tossi os pulmões.
Vomitei as entranhas, as minhas entranhas vomitaram as suas entranhas, vomitei-me.

Vomitei-me porque acima de tudo eu sou parte de mim.
E nada mais fez sentido . Isso... bem, isso dá-me um rumo claro, que vou dilacerar, outra vez e outra vez e as outras vezes que forem precisas para aprender a sentir no sitio certo.

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