Numa
folha de zinco a preto. Nunca tive jeito para os primeiros momentos. Tenho a
tendência covarde de mostrar os meus defeitos todos imediatamente. Como que a
dizer que os arenques do rio dos meus olhos não estão vivos já. Escrevinhado
como um sol sem luz num universo de desconhecidos. A nadar num deserto, no tom
pálido de um café daqueles onde íamos para falar, com pessoas muito distantes,
de olhinhos enfadonhos em letrinhas à sua sorte num jornalito de notícias
sempre iguais. A matiné. Os estrangeiros diferentes calcando os soalhos em
apocalipses de felicidade. A nossa carinha encostada ao interior do vidro do
café com os dedinhos em bico a pegar na colherinha e a mexer a merdinha da
mistura que fica no resto do café e do açúcar. A principal faculdade dessa
manhã: sou uma merda, fica sabendo, não aprenderás nada que valha a pena
comigo, estou a envelhecer, a desperdiçar oportunidades todos os dias, a vida
não é muito mais que isto. Uma guitarra brandindo choros de mãe na folha de
zinco do teu nome. Ventres esquecidos na maternidade da minha memória. Outro
dia sentei-me em casa, moro na frente de um mato, pinheiros altos, sobreiros,
terra solta, remoinhos de vento remoinhos de terra solta, abri o estore e
pousei quatro livrinhos na mesinha, refastelei-me de pernas abertas contra a
imagem do vento a tocar, pentear, os pinheiros para a direita, senti que me
faltava um ou dois rins, os pulmões, senti-me morto a tarde inteira. Ouvi um
choro diferente. Dizias-me Tudo bem, antes isso que cheirares mal. O teu humor
faria rir um Hitler qualquer. Eu também sorri, não muito, para não me mostrar
pateta. Queria ter rido tudo ao teu lado se me tivesses deixado. Passei-te o
pacotinho, passaste-me o dinheirinho, dei-te um sorrisinho. Fui embora Até à
próxima.
Aprender comigo que comigo nada se
aprende. E a folhinha de zinco do teu nome com reflexos rasantes de guitarra a
chorar lições de astronomia barata ao ceguinho como um professor mudo num
deserto de torturas e memórias.
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