20101018

poema dos meus 84 anos

irmão,
voltaremos de pé
sob fervente água
flutuando no espaço dos oceanos
em cima do nosso próprio caixão
qual vontade louca de não cair
lá para dentro

nas margens
a inquisição espreitando
numa paciência eterna
de milénios

e a água,
digo-te irmão
fechando-se envelhecida
e cansada
dentro das suas tochas virgens
ao som dos nossos aplausos
e
a sua felicidade fervilhando em fumo preto
não das nossas cinzas
não da nossa morte
lacrará as velas
da nossa liberdade.

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