20100509

eu sei que aguentas, como terias aguentado se descesse em ti o terrível peso
das tetas de Deus, e se te tivesse tocado o Midas gigante
que é o meu ego ou se te tivessem comido viva os cabelos de Medusa do meu amor
intolerante imprevisível imperativo impiedoso imponente improvável e lamentável
é normal que aguentes, como um blindado no deserto, a apanhar com a chuva graciosa
de balas e a tempestade irrequieta de areia que é esta tripulação à deriva
no meu organismo, como uma infecção vestindo o meu coração de cemitério, flores
e lágrimas, e do outro lado, de jardins de Primavera, de flores e risos. como eu sei
que aguentas essa tortura que te suja a língua de beijos e te enche a boca de uma libido
fálica em estado puro. o derrame dos sonhos. em toda a dimensão esguia de um quarto. a janela
servindo para lançar notas musicais, melodias de prazer em chama chamando por todos, por todas,
numa canção sexual incapacitante, penetrante, incoerente.

eu sei que parece difícil mas tu aguentas, até as facas e o fogo e as pedras, esse teu
escudo incapaz é de uma qualidade que nem por sombras consegues imaginar. e incapaz és tu, pelo menos
incapaz de ver onde cresce luz, seguir-lhe o cu esconderes-te nela.

e tu e eu e todos

e eu sei que aguentarias a simples merda de sermos mortais, mas o tempo urge. e eu, tal como tu,
seria capaz de tudo, se por um momento, tivesse pensado em deixar que acordasses. para te maltratar
de forma consciente. teve que ser.

2 comentários:

merge disse...

tenho saudades tuas

Gabriela Lacerda disse...

confuso e claro. apelativo e destrutivo. Triste, talvez, não sei.. Gostei, sobretudo dos jogos de palavras.