20080424
7 da manhã eternidade
defronte da luz gelada do fim da noite
alguém me chama
daquela neblina quente de vapor
os sofás deitados
e as fotografias a dormir ainda
o telefone toca e tu não atendes
permaneces imovel
no teu futuro incrivel
gesticulas para te manteres vivo
agarrado ás cinzas de tudo o que
nunca te ardeu
no calor doce da madrugada
repete-se o desejo
de correr a cidade e encontrar
mortas em qualquer beco
todas as palavras
o cigarro evapora-se
a lareira liberta a furia de todo o mundo
e tudo arde, e tudo arde
e tudo arde
o telefone toca neste vazio eterno
nas tuas mãos a morte
gesticulas a morte das tuas mãos
nas tuas mãos o cigarro evapora-se
e lembras-te das fotografias que dormem ainda
lembras-te dos olhos e dos braços
porque amanhã é sempre tarde para o coração
lembras-te dos teus passos
mas imovel
amanhã é muito tarde
para que te lembres que continuas vivo.
fechas os olhos e dormes
fechas os olhos e continuas vivo.
calo-me
pq permaneço nas fotografias
e nos sofás
nos lugares e no fogo infinito da noite
e apaziguo a fome
de olhos fechados
na janela do teu quarto iluminada por ti
não morri nunca
na canção da tua voz
eu não morri nunca
fecho os olhos e dormes
e fecho os olhos e durmo
porque eu
eu não morri nunca.
20080412
para ti que tens todos os nomes do mundo
lembro-me. Meu amor, hoje chamo-te assim por não ter melhor ideia de ti. porque quero parecer
por isso sou todo teu. lembro-me querida de ti. lembro-me querida dos nossos gestos em câmara lenta
frame by frame agulhas de pedra no soalho dos nossos ouvidos. câmaras árvores e folhas argumentistas
encenadoras realizadoras. meu amor, hoje chamo-te meu amor porque não quero saber o teu nome porque
o teu nome não me interessa desde que continues aqui, podes ser o vento, ou a chuva, podes ser a
podes... tu podes, porque tu podes tudo desde que continues a ser, ouve-me no silêncio, a ser :
- Meu amor.