abro a janela
e uma laranja desenhada no horizonte
avançando docemente
para o precipício infinito to tempo
se me rasgares o corpo
todo eu sou flores
e frágil avanço
nos finos cabelos de um velho
e todo o sangue
que um dia me construiu
sopra agora triste
nos pulmões trémulos de uma onda
abro as mãos delicadamente
e gesticulo o mundo
dois barcos junto da laranja magnética do horizonte
avançando docentemente
para o definitivo calor do Outono
coração imagina
todas as ondas
a respirarem para ti
numa taquicardia de espanto
raiva
e
dor
aos solavancos
descendo dos olhos dos olhos
as cidades ardem
no fundo do mar
se me rasgares a alma
o teu medo de sangue
come-te viva
coração imagina
fotografias onde somos nós
todas as cidades e todas as pessoas
a desaparecer num fiozinho amarelo
depois escuro
depois cinza
depois escuro
depois cinza
abro as mãos suavemente
e lanço o fumo à geada cortante
da madrugada
vai coração corre
pronto na ponta de todas as seringas
cortar esse limão laranja
em gumes tão grossos quanto um fio de água
tão lentos como uma navalha nos ossos
tão ardentes como o amor nas veias.
seduzindo as pontas negras
do fim da madrugada
abandonar-me-ei junto a qualquer rio
e talvez seque,
outra vez seque
esperando,
esperando.
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5 comentários:
a mafalda mostrou, foi isso
Não esperes. Nao seques. Não te abandones.
És flores.
"...se me rasgares o corpo
todo eu sou flores"
Quem sabe um dia.
Enquanto esperares, e secares.
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