apetece-me ser uma navalha de sangue, cortar-te a boca, entrar em ti.
ver-te por dentro, o que guardas tu por dentro que me faz o sangue ferver?
apetecia-me deixar a pele á porta da dor e sentir, ó, sentir, como seria bom
dizes tu, ensanguentada, sentir, que mito magnifico. dizes tu, porquê? e eu
não te respondo porque o universo me obriga a fechar a boca e a revisitar tudo o
que fui e o que fiz, porque esse animal grotesco me obriga à dura habituação de espaços
e pessoas, ao amontoar de ossos em mim, retalhos de peles em mim, o estúpido fato humano
que vestimos porque nos convem: e a mim nada me convem, nunca me sinto contente. por isso
apetece-me cortar-te a boca, cortar-te a língua, cola-la em mim, usar-te. apetece-me
usar as tuas falas neste mundo sem cor a viver de cor, apetece-me, sei lá, matar-me mais
que duas vezes, três... nascer por aí, abandonado.
puta que pariu esta felicidade que não cabe em mim!
ouve, apetece-me ser vento.
apetece-me mesmo voar
20080730
20080719
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