20071115

inferno a frio

sozinho, chorei como uma criança de vidro, de medo. chorei como as plantas de uma manhã de orvalho,
a conta-gotas, enquanto o meu peito diminuía e se esvaziava da dor, do prazer. Chorei, a frio,
por ser só desta forma que a dor e o prazer de sentir a dor e o prazer se aviva e se dispersa em
mim, num frio de calor de inferno, onde as únicas palavras se escrevem no espaço da morte de todas as
palavras. sozinho, imortalizei todo o medo que há em mim e chorei, chorei como se o mundo dependesse
de cada lágrima que cedia, como se cada palavra de cada boca, de cada frase de cada ser, dependesse
de todo o meu sofrimento. nem claro, nem o escuro, nem o amor, chorei lágrimas e debrucei-me
no seguro de uma casa em chamas, um imenso lago de inferno em mim fulmina o soro das minhas veias e nesse momento, chorei.
chorei, e que horas serão neste século tão seco?
estarei cá para sempre, a chorar as águas de um rio que passa sempre, sem lágrimas
de criança, porque sempre é o mais ínfimo segundo do choro de uma criança.
choro, para sempre, na companhia de toda a solidão que me comove, nesta solidão
que é ver o meu corpo crescer na vontade viva de um menino quando tudo à minha volta
morre e eu, inconsciente, sigo pelo mesmo caminho.

3 comentários:

Anónimo disse...

aí está ele!

Tiago disse...

Não o sigas.

Que texto do caraças.

Anónimo disse...

Penso em ti todos os dias.
Gosto mais de ti todos os dias.
*