cair de um céu salgado
num mar cinzento
apagar as velas de um sopro
soprar o vento para longe
sem pudor
e com os vizinhos a assistir a minha queda,
como na ilegalidade da eutanásia,
incrédulos
ao ver que o que eu faço
é tanto daquilo que eu não sei o que é.
cair
só para quebrar esta monotonia
que é acordar para ter os olhos abertos
levantar e andar
para que o mecânico do Homem que sou
não apodreça no quieto de quatro paredes
e assim se esqueça que existir faz bem à saúde.
e existir não é só ter o nariz apontado para o céu
cair é bom,
fazer amarelo o que é preto
e depois das cores
o exacto do corpo arranja sempre forma
de se por de pé
mesmo que o mais difícil seja
por um único instante
tocar com a cara na aspereza da terra
e senti-la rasgar o musculo
senti-la ensanguentar a face que oferecemos
senti-la quebrar o espaço e o tempo
e,
num rejubilar instantâneo,
deixa-la cair em nós também.
depois, cair mais ainda
porque não sabendo o que é cair
bem posso imagina-lo
como um mergulho
bem mais fundo que tudo o que imaginação vê
e bem mais real que tudo o que os meus olhos têm.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
5 comentários:
Porra, fantástico, nem dá para destacar parte nenhuma, mais uma vez tens aí tudo dito.
Mas caramba, cair dói, mas levantar dói mais ainda.
Um abraço.
estás doente?
além de temos hábitos matinais semelhantes, tambem estamos doentes!
maravilhoso.
mas eu ganho-te ao ranho!
ainda não li o que escreveste, mas vou ler agora. só não vou comentar.
não sei se reparas... nunca digo nada em relação ao que escreves, é-me impossivel. desculpinha.
as melhoras então, rapaz!*
ó, mas devia. e não é porcaria nenhuma.
nem sabes a invejoca que tenho das pessoas assim.
só digo estupidez, e em grandes quantidades. por isso é que te deixo todo comentado. :D
vamos tomar chá? :)
gosto do poema. Obrigada! :)
Enviar um comentário