As flores onde
germino a secular sentença que me deste estão a crescer de tamanho. Procuro-as
e encontro-as: em cada lugar escondido na sombra, em cada jazigo pestilento de
um amor luminoso, em cada mulher. Nelas encontro a aura libertadora de todos os
céus da noite, das estrelas nevoentas na noite de Dezembro, no tinir necroso
dos meus joelhos ao frio: nelas me encontro na minha putrefação luxuriosa e
exibicionista: neurótica: como me mostro. Assim me passeio, ouvindo com regozijo
os murmúrios da minha sentença ecoar pelo interior oco das bocas, imaculados
louvores à minha paixão por ti, flores negras de impassíveis cantoneiros. A tua sentença no meu corpo sujo. A tua
sentença na minha sombra negra. A tua sentença nas minhas roupas pobres. A tua
sentença no meu esquálido sorriso. A tua sentença no meu repugnante sabor. A
tua sentença no meu absurdo cambalear. A tua sentença espalhando-se comigo na
cidade. A tua sentença uma beleza de comprimir o coração. Que nisto de esperar
o meu corpo habita. E tão habituado habita, que o musgo da tua sentença cresce
junto das flores do teu sussurro, mesmo com a porta fechada, sem luz.